O sabor da carne...

Além do indispensável (pelo menos para mim) erotismo, o "Embrulhos" terá também o seu lado ecológico... Para vocês terem uma idéia segue abaixo mais um naco, quer dizer, trecho de carne, quer dizer, do livro...

          (...) Aliás, por muito tempo eu tive a quase certeza de que, o melhor sabor da carne das vacas, devia-se ao fato de eu não saber os nomes delas. Quando comia alguém conhecido, frango, por exemplo, o fato de saber, não só o nome, como também de suas vidas, conferia identidade à carne amargando-a com a sensação de estar comendo pedaços de um ser que vi brincar, sofrer, comer.... É certo que comia, mas as imagens, ainda frescas, dos mesmos correndo pelos quintais mesclavam-se à imagem de seus restos mortais no prato, tirando-me parte do prazer da degustação, o mesmo acontecendo quando diante de uma suculenta costelinha de porco, com a agravante que, era muito mais desagradável ver imagens de um porco num chiqueiro, mescladas à imagem de um jantar. Nesses casos a comida tinha rosto, história familiar, nome...(ligação afetiva não, pois as vidas às quais nos afeiçoávamos eram vendidas para outros comerem). Já no caso das vacas era diferente. Chegavam em casa já em pedaços e vindas sabe-se lá de onde. Sequer do sexo sabíamos, menos ainda do nome, da figura, do jeito, das particularidades... Não tínhamos a menor idéia de quem poderia ter sido a criatura assassinada e assim, não vendo vacas pastando em meu prato, comia liberado de qualquer culpa.