segunda-feira, 23 de junho de 2008

Resenha do Livro A CIDADE QUE MATOU A ESTRELA



Uma resposta e muitas dúvidas do Centro: terá Deus criado o Povo?

“Se eu tô te confundindo é pra te esclarecer” (Tom Zé)

Ajoelhados, os comilões reprodutores encontram uma caixa misteriosa, em uma cidade universal — a minha, a sua, a do outro. Milagrosa, superfaturada. Que transformava os desejos umbilicais em cidadania. Quando os joelhos deixam de tocar o chão, o Coronel, cansado do cheiro da periferia, a pinta com tons de amarelo-violento. Estava instaurada a democracia, viva no vocabulário, mas esquelética e sem sentido para o povo. “De tão desgastada, de tanto servir ao demo, acabou expulsando Deus de dentro da caixa”.

É isso que diz o autor. Enigmático? Sem dúvida, mas quem diria que é fácil? “Se fosse fácil, todo mundo ia”, citaria um outro autor, talvez aquele que, de cima das torres gêmeas dessa cidade aí, tenha sido empurrado, como foi. A resposta está no título da segunda obra publicada de Luiz Mozzambani Neto; na verdade, a terceira, mas que por urgências do coração tomou o lugar da segunda por estes motivos que a vida não explica, só proporciona: “A Cidade que Matou a Estrela”. Muitos vêem na cidade, a cidade de origem do autor; nos personagens, habitantes daquela cidade. Pode ser, e ate é. Mas a arte tem das suas — e deixa para o íntimo de cada um traçar o contexto (se é que existe).

Afinal, “A Cidade que Matou a Estrela” é uma alegoria sobre pessoas ajoelhadas, coronéis do Centro e pessoas que acordam, Semeadores de Verdade que enxergam Deus amarrado, por detrás de portas reais que se fecham e abrem a cidade ‘de mentira’. Na metáfora da criação da democracia, Mozzambani institui, através dos coronéis da cidade, salários àqueles eleitos para representar o povo, porque cheiro de povo não dava mais para os mandatários do Centro.

E todo mundo quis ser representante do povo. E todo mundo quis “cumpri o penoso, mas recompensador ritual do ‘abraça pobre’".

Mais que uma alegoria, mais que uma visão de fatos coletivos recentes que influíram em sua vida, Mozzambani cria uma espécie de tratado popular sobre a política, construído por um eu que desconhece a política, odeia o que acha que ela vem a ser. Que fala a língua dos ajoelhados, dos que, com a construção das Grandes Torres e da Grande Câmara, passam a ser ignorados pelos comandantes que, lá de cima, deixam de enxergar o povo.

Daqueles que vêem, a cada dia e em toda a História Humana, fazer-se cumprir a ameaça do Coronel de Monte Grande: “e não se esqueçam de que a altura feita (das Grandes Torres) para governarem em meu nome é a medida da queda dos que ousarem entender o povo”.

Desta democracia coronelista surgem o tráfico de influência e favores, o fingimento, a ganância... Ah, os moldes republicanos!

E a estrela? Bem, a estrela é morta pela cidade... Voeja do alto das Grandes Torres, pelas mãos de quem o empurrou e de quem não o empurrou, nem fez nada. Mas, em determinado momento, um tal Semeador de Perguntas desconfia de que ela foi enterrada viva.

E, só por isso, ela vive nas entranhas das terras e luta contra a falta de fubá nas sopas, sofás suados e marcados, últimos capítulos de novelas, caixas multinacionais de desejos e/ou vasos sanitários com controle remoto.

A Cidade que Matou a Estrela é uma alegoria. É um didático. E, crença por crença, alienação por alienação, vai chocar e encolerizar muita gente — à toa, digo já, porque não há uma só cabeça em que a carapuça sirva.

Por isso, recomendo! Ao menos algum sentimento brotará de corações e mentes tão endurecidos, baseados no arroto e no gozo: aos comilões procriadores, a obra!

Luiz Felipe Nunes é jornalista, professor, escritor, militante político, cultural e esportivo.

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